quarta-feira, 24 de março de 2010

Visto da Janela da Sala 12, às 16h De Uma Quarta-Feira

Gosto de olhar pela janela,
Sentir os raios de Sol a queimar-me a pele...
A luz cega-me os sentidos
E os pensamentos, cuidadosamente medidos,
Geram diferentes conflitos
E apesar dos meus pedidos
Para afastar os perigos,
Não consigo.
Pisco os olhos e eles brilham,
É impossível que eles mintam.
A denúncia do sentimento
A renúncia ao sofrimento.
Lágrimas de felicidade,
Mil sorrisos sem futilidade.
Esta aventura em que embarquei
É maior do que alguma vez sonhei,
E tudo o que vivo intensamente
É tudo o que uma simples forma de vida sente.
O relógio marca os segundos que faltam
Para a campaínha soar;
As saudades que se matam
De cada vez que te posso abraçar...
Tenho um certo medo que a vida dê de si,
Não quero que o tempo ande
Não quero sair daqui.
Uma tristeza se instala,
Não consigo afastá-la.
A esperança quer ir embora.
E, de dentro para fora,
Nasce uma sombra nessa hora.
Tento vir à tona, tento nadar
Mas isto não me liberta, não me quer largar.
Não consigo respirar.
Sou mesmo eu quem escreve isto?
Talvez outro "eu" que me controla?
Quem me diz que não desisto?
Quem neste jogo tem a posse de bola?
E de repente parto este oceano em dois
Com medo do que irá acontecer depois;
Levanto-me e assumo o controlo novamente,
A tentar que a minha ideia fique bem assente.

E volto à Terra, assim atordoada
Sem saber que estava a fazer...
Olho para o meu livro, já acordada,
E sigo o que estão a ler.
Já estão outros do lado de fora;
Não fiz mais nada senão pensar e sonhar.
Acompanhei o teu movimento enquanto ias embora,
Com a promessa de nunca te deixar.
Está na hora de me levantar,
Abrir a porta e sair,
Levantar os braços e espreguiçar
E ter cuidado pra não cair.
Deixo o papel e o lápis em cima da mesa
Viro costas, alegremente;
Vou voltar, disso tenho a certeza,
E escrever tudo o que quero, abertamente.

E se a pergunta de quem lesse isto fosse:
De onde veio toda esta arte?
Eu responderia:
Da janela da sala doze,
numa quarta-feira à tarde.

Assombração - Parte I

 'Não quero falar do assunto' Apesar de toda a confiança Tudo regressa numa palavra Adeus à segurança Como uma assombração se volta ...