domingo, 14 de outubro de 2012

Umas luzes de honestidade

Mais uma vez, a loucura das palavras volta a chamar-me e arranca-me do meu estado sonolento. Larga-me na insónia de sonhos inacabados, de raciocínios sem conclusão possível. Nado no meio do oceano, cansada e sem terra à vista... Será da miopia, ou não há mesmo qualquer ilha aqui perdida?
Como sempre, filosofo, transformo tudo em metáforas - enrolando-as à volta dos dedos como enrolo pastilha elástica à volta da língua. Escrevo em código, conjugando as palavras com o bater do coração e com o correr do sangue pelo corpo.
Tenho os headphones bem encostados ao ouvido e uma companhia indispensável... Dou então liberdade ao pensamento.

Há momentos, no escuro da noite e dos segredos, em que me sinto como uma fugitiva solitária no meio da selva. De que fujo? Talvez de memórias, de emoções, ou até de mim própria (peço, desde já, desculpa pela redundância). Quando me sento para recuperar o fôlego da corrida, apercebo-me das pessoas que fui deixando para trás - ou foram elas que me deixaram para trás e disseram "corre"?
"Só sei que nada sei"... E pensar nisto dá-me dores de cabeça. Estendo a mão para miragens, peço apenas uma simples conversa amigável, uma chamada, um "Olá!", um "como estás?". Mas as memórias não respondem. Estão apenas lá, a fixar-me com o olhar, a mirar-me de lado, ou então a apontar o dedo. O som, face a isto, tornar-se inútil e dispensável, visto que maximiza o que precisa de ser erradicado. Nada faz sentido e quero que faça, desesperadamente. É esta, a ânsia de PERTENCER, que me faz correr - mas que ao mesmo tempo me pára como uma apendicite aguda; o problema é que não consigo tirar o apêndice, e tenho receio que dê cabo de mais qualquer coisa cá dentro!
Chego à conclusão que não pertenço em qualquer lugar excepto em casa e no coração de algumas pessoas (e mesmo em casa duvido da minha pertença). Pertenço também às palavras daquilo que escrevo, às palavras dos textos que leio (quer seja para estudar ou só para desanuviar), às palavras que ouço e que dedilham os acordes das canções. Pertenço às pessoas que estão à distância de um bilhete de avião. Pertenço a quem me ama tanto quando ao próprio sangue. Pertenço a quem me ama e me põe em segurança. Pertenço à música que ouço e às pessoas que me inspiram. Pertenço às cicatrizes que só eu consigo ver através do tempo, pertenço ao tempo em si, pertenço a ideias e sonhos suspensos, pertenço a tudo e ao mesmo tempo pertenço apenas a uma fracção daquilo que julgava ser o (meu) mundo. A minha sombra, pelo contrário, não a tenho: pertence a cada uma das minhas memórias e a quem ficou para trás.

Assim, embora muitos não compreendam, obtenho o expoente máximo de liberdade com a música. Com o ritmo exorbitante da bateria, os acordes harmoniosos das guitarras, a profundidade do baixo, a beleza indescritível da voz e das letras! A sensação de ABSOLUTA LIBERDADE E PAZ no meio de 56 mil pessoas que estão a sentir o mesmo, a saltar ao ritmo da mesma música, a cantar a mesma cosa - além de ser uma sensação de pertença, é uma onda de energia pura que me trespassa. O rock mantém-me VIVA e sei que me acompanhará durante toda a vida, aconteça o que acontecer.
É por isto que preciso de dinheiro para bilhetes de concertos e para uns fones novos. Que danço sozinha de madrugada. Que ponho música BEM ALTO até que as paredes se queixem. Que desejava saber tocar bateria, baixo guitarra, enfim - e de saber cantar tão bem como o Jon, o Gerard, o Jared, o Chester ou a Sharon.
Bon Jovi, Linkin Park, HIM, My Chemical Romance, 30 Seconds to Mars, Within Temptation. As bandas que mais:
- Me influenciam
- Me inspiram
- Mudaram a minha vida
- Me fazem rir e chorar.
Não só pelas músicas, mas pelos seus membros... Em especial o Jon e Richie ( Bon Jovi) , Mike Shinoda (Linkin Park), o Gerard (MCR), o Jared, Shannon e Tomo (30 STM). Quando os vejo, consigo ouvi-los segredar ao meu ouvido: "Não sabes se te integras ou pertences? Estás triste? Estás com receios? Sentes-te feia? Sentes que nada será como tu queres? Que se foda. Vive a tua vida da maneira que TU queres! Não deixes os outros decidir por ti, sê a realizadora do teu próprio filme. Vai ao chão, mas levanta-te. ANDA RAPARIGA! Ama quem tu queres, como se não houvesse amanhã. Luta pelos teus sonhos. Força. Stay beautiful, keep it ugly! Keep on going, eyes wide open!"

Dá-me vontade de tatuar alguns símbolos ou frases, para um dia mais tarde sentir aquelas letras na minha pele e saber o que consigo fazer; saber do que sou capaz. Sentir outra vez a voz daquelas pessoas e o meu amor incondicional por elas e pelas suas músicas que me fazem ser capaz de ser quem sou e superar cada pequeno contratempo do dia-a-dia quando não encontro forças em mais nenhum lado.

Obrigada, música, por seres a minha melhor amiga.

Termino com uma obra prima. Que transmite tudo aquilo que precisava de transmitir. Funciona como uma óptima catarse, embora por vezes me deixe com vontade de GRITAR bem alto!!

Lights, out.

Bye bye.




sexta-feira, 22 de junho de 2012

Snow White & Prince Charming

Os cépticos chamam-lhe ilusão.
Os cientistas chamam-lhe descarga de químicos e hormonas.
Os que acreditam chamam-lhe algo piroso como "verdadeiro amor".
Vejamos para já o exemplo da Branca de Neve e do Príncipe Encantado, em "Once Upon a Time". Ambos conheceram-se na floresta, quando ela tentou assaltá-lo. Acabaram por se apaixonar em pouco tempo e efectivamente estiveram juntos por pouco tempo, já que forças de todo o tipo uniam esforços para os separar - nomeadamente a Rainha Má, que queria destruir a felicidade de Branca de Neve por razões (QUE EU ACHO RAZOAVELMENTE) compreensíveis (para qualquer pessoa no lugar dela. Mas não deixa de ser muito mau. ENFIM ADIANTE.)
Pego neste exemplo porque acho que é o mais explícito.
O Príncipe quis dar a vida pela Branca de Neve. Ela acabou mesmo por fazê-lo. "Morrer por amor parece-me um sacrifício que fico contente por fazer", chega a dizer o Príncipe.
É realmente fabuloso ver como eles se unem. Como lutam um pelo outro. Como ele conseguiu sentir o seu peito a apertar no momento em que ela supostamente morre...

Faz-me olhar para dentro e sentir-me vazia.

Diz-se que todas as raparigas querem um amor assim, e eu não sou excepção à regra. Não estou à espera que alguém chegue e me salve. Tento também não deixar o meu coração vaguear pelos mares do passado, porque a corrente não vai a lado nenhum. Apenas em dor.

Porque a chama da esperança já se apagou há algum tempo, observo apenas a vela a fumegar e afasto-me lentamente do local onde perdi a alma. Ando para longe.

Os meus erros hão-de criar as melhores histórias. O meu coração ainda há-de ser um museu de estilhaços. Qualquer coisa.

Sei que estou no caminho certo. Só não sei para quê...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Noite

Fechei a janela e a porta,
Tirei o relógio e a roupa,
Despi-me deste peso de alma morta
Sabendo que mesmo assim não vem outra.
As pálpebras pesam e o sonho já me quer.
De tantas maneiras já escrevi isto...
Enfim, se tem mesmo de ser
Então desisto.

Deixei-me cair numa névoa de poeira
Pensei que o fosse o início do Universo ou do tempo
Mas eram apenas vultos - nenhuma forma verdadeira -
Retratados de momento em momento.
O sangue corre,
É sinal de vida.
Também do braço escorre:
Vingança prometida é devida.
Lençóis manchados, gritos de horror
Chão marcado de terror.

Lutar por ar quando este nos é tirado,
Lutar por terra firme quando esta nos sacode,
Finalmente regressei à minha cama e onde pertenço - destino traçado?
Que me afasta do que quero, que com dentes afiados me morde?
Senti os sulcos de leves cicatrizes que só eu sei onde estão.
Escondidas à vista de todos e de tudo,
Só os sente a minha mão -
Num suspiro de dor mudo.

Lá fora, as estrelas fitam o meu lugar.
Se o meu lugar é este, porque anseio algo mais?
Cansei-me de sonhar e de esperar
Por algo que sempre cai, sempre vai, sempre acaba por ser demais.
A noite passa... e a escuridão adormece.
O Sol sai para fora,
A Lua entristece,
Acaba mesmo por ir embora.

A névoa desaparece.
É agora que me levanto, consciente que voltarei.
Volto sempre quando anoitece.



Utopia (23/04/2012)

Quem sou eu senão mais uma?
Mais uma ave a tentar tocar as nuvens,
Mais uma cabeça pensadora a tentar dar lógica ao destino,
Mais um sorriso, mais um olhar, mais um poema de desatino.

No espelho não se observa
Um vazio por dentro.
Não me conheço... Quem sou eu?
Outrora, alguém; agora, apenas mais uma.

A emoção eleva-se, está ao rubro.
O sentimento espalha-se.
Dou o corpo às balas por um soçobro,
Amor platónico sem retorno.

Não me venham com estoicismos,
Uma vez chega para tais heroísmos.
Não me acalmem; já disse que não sei quem sou.
Outrora, fui alguém; agora, apenas mais uma.

Tento reflectir-me nos teus olhos,
Desenhar sorrisos no teu rosto.
Vejo-te afastar, sem brilho te conseguir dar;
Mas lembro-me de te ouvir confessar...

Para onde foram essas palavras?
Deixaste-as escapar?

Não consigo separar as coisas.
Um só pensamento serve para me lançar na confusão.
Numa palavra, tiras-me o chão e já não sei de mim...
Outrora, alguém; Agora, apenas mais uma.

Percorreria esta distância para te salvar!
Pena esse teu entusiasmo tão fugaz,
Que desapareceu num relâmpago:
Tão rápido surgiu e tão rápido se desfaz.

Não aproveitei a oportunidade.
Um dia chegava... não pedia mais!
Neste sonho utópico me perco, sou outra pessoa:
Outrora, alguém; agora, apenas mais uma.

Então esqueço este contratempo,
Enterro-o com saudade e sem saudade sou esquecida.
Como a areia da praia, que vou perdendo...
Mas não faz mal... Há tanta areia na praia, afinal...!

Com tristeza, resigno-me à minha insignificância.
Sou uma figura de segunda instância.
Não vale a pena abraçar-te...
Foges pelo espaço entre os meus braços.

Sou um barco à deriva num oceano de tubarões...
Agarrada a um bote salva-vidas,
Que me tenta resgatar todos os dias.

Não olho, não quero nada.
Uma fixação no real, pés fincados na terra (um pouco à toa!).
Num beijo, reinvento-me; já sei quem sou!
Outrora, alguém; agora, outra pessoa.

domingo, 17 de junho de 2012

Quatro

Esta vontade que vem de dentro, não sei que lhe faça.
Posso pôr no papel, posso deitar fora, posso embrulhá-la numa nuvem e transformá-la num sonho.
Sonhos vêm e sonhos vão,
Ou então acabam como eu, caídos no chão.
Como é, então?

Um: há esta força cá dentro, que treme como treme a terra,
Agita-me como se agita o mar,
Abana como o vento abana aquela árvore sozinha no alto da serra -
Sozinha como eu, sem saber a quem tudo isto dar...
Quem merece, fugiu
Ou então tem o olhar noutros horizontes.
Quem antes partiu, quebrou também todas as pontes.

Dois: há uma marca. Quase como uma cicatriz.
Que dói. Mais nuns dias que noutros, é verdade...
Lembra-me de tudo aquilo que tive, tudo aquilo que fiz,
Os tesouros que abracei e que me foram tirados pela força da realidade.
A chuva cai, ouço o som dos trovões ao longe,
A luz dos relâmpagos preenche o vazio.
O ar enche-se de saudade...
A minha cabeça anda à roda,
As pernas enfraquecem.
...
Como pode ser tão difícil descrever aquilo que assombra a alma,
Que rouba o sono, o sorriso e a calma?
 
Três: há vários caminhos, e tão diferentes.
Em cada um deles perco um pedaço de mim!
"Respira fundo, o que é que sentes?"
"Não me chateies, deixa-me continuar a dormir". Enfim...
Escolhas, tudo é feito de escolhas sumárias,
Umas pecaminosas,
Outras (des)necessárias,
Outras ainda desmotivantes ou então esperançosas.
Que encruzilhadas, que estradas mal paradas,
Que nevoeiro...
Não vejo um palmo à frente, como querem que avance, caramba?!

Quatro: há tantas memórias que deixo para trás,
Tantas lições que aprendi
Quando a vida chegou à minha beira e ZÁS!,
Arrancou-me tudo e eu nem vi.
Nada dura para sempre, nem o furacão mais forte
Nem a chuvada mais poderosa
Nem o Sol quente
Nem a flor mais viçosa.
Desenganem-se os felizes apaixonados
(como os invejo)
De que nunca virarão as costas aos seus amados;
Desenganem-se os apoiantes dos contos de fadas
(doce inocência que me fugiu)
De que existem príncipes e princesas disfarçadas...
Tudo te escapa se não estiveres atento.
O teu maior sorriso pode transformar-se em profundo desalento.

A música corre-me nas veias,
Tenho um segredo colado nos lábios,
O pânico enche o ar do quarto.

Até quando...?


"It's hard to hold on when there's no one to dream on."

terça-feira, 12 de junho de 2012

Isto e mais alguma coisa

O Sol põe-se, mas não faz diferença. Está escuro desde que acordei.
Desfaço pétalas de flor na minha mão enquanto conto os segundos e minutos e horas,
O tempo adquire uma dimensão tão pesada que nem sei...

O telemóvel mantém-se quieto
A campainha não toca
A espera prolonga-se até os meus olhos não aguentarem e ter de ir dormir.
A sonhar é que estou bem, parece-me.

Se tivesse quintal, enterrava lá o meu coração:
Cresceriam rosas - brancas, pela paz e tranquilidade que só uma única vez soube ter.
E quando as fosse podar guardava todos os espinhos, desenhando histórias e iniciais na minha pele: linhas vermelhas ao longo dos braços,
Cicatrizes visíveis,
Uma dor gritante que diga que estou viva.

As estrelas não me sabem ouvir
Ao céu não conseguirei chegar,
(Se bem que já lá estive, mas parece impossível lá voltar...)
Pode ser que com estas lágrimas por cair
Seja mais fácil continuar a sonhar.

A noite não entende o que murmuro às paredes.
(Essas, que me conhecem tão bem, e ainda se admiram com aquilo que conto)
Pequenas coisas que se espalham pelo chão do quarto e ninguém dá conta:
Pedaços de memórias, ou de sonhos, ou de coisas que não chegaram a ser ou acontecer.

Cai um pouquinho de mim em cada um desses pedaços,
Que acabam por se amontoar até a janela se abrir e o vento os fazer voar
Para longe, só para que mais tarde voltem em força e glória.

Que estás a fazer ainda acordada? O dia de amanhã ainda demora, vai dormir...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ondas

Sob um tecto escuro, estrelas a meio gás
Música flutua sem saber o que faz.
Um corpo isolado, perdido
Nas ondas da memória de um livro já lido;
Um livro já gasto,
Páginas corroídas pela acidez de tristes acordes de guitarra.
O som grave de palavras agridoces,
Oscilações de uma saudade que nunca sara.
É um segredo escondido, por baixo do colchão
Ou por vezes debaixo da almofada...
Para me assombrar os sonhos e o coração.
Por onde passa, deixa um resto de nada.
Um brilho do que foi e não volta,
Um vislumbre de uma lembrança que deixei à solta.
Correm pela minha pele como lâminas
Estes arrepios que sinto...
Gotas de sangue caem no chão onde minto.
Minto com todos os dentes que tenho na boca,
E o mais grave de tudo é que não me arrependo.
Talvez esteja louca!
Não me admirava nada...
São delírios a preto e branco
Estas minhas convulsões sem controlo...
Libertem-me! Libertem-me, por favor! É tudo o que peço... Porque cada vez parece mais difícil de aguentar!!!
Mas como ser libertada daquilo que não se quer largar?
Os pensamentos vão e vêm
Os pesadelos idem.
O meu corpo eventualmente adormece e esquece;
A saudade permanece..

sexta-feira, 23 de março de 2012

Acrónimo

Embora gostasse, nunca caminharei ao largo da praia a espalhar brilho nos olhares.
Um dia, pensei que talvez fosse possível; mas a espuma do mar mandou-me para casa.

Agora, não sei que promessas mais quebrarei,
Manchando sorrisos de vergonha,
Orações de descrença, e afirmando que de nada sei.

Tudo é incerto, mas a luta aguarda-me,
Então carrego as armas.

Roubaste-me algo muito precioso,
Uma muralha que tinha construído..
Bastante convicto, deitaste-a abaixo
E chegaste até ao que estava mais escondido:
No fundo da ravina, recuperaste algo perdido.

Maravilhas-me com que és,
Admiro o teu olhar.
Gelo quando me falas de tudo aquilo,
Imaginando se um dia tu me falhas...
Numa questão de segundos, envolvi-te num abraço intenso,
Apreciando cada reacção a um beijo imenso.

Pára o tempo,
E vive este momento.
Roça os teus lábios nos meus,
Enlaça as minhas mãos nas tuas.
Idealiza um crime perfeito...
Rouba as ideias e pinta um cenário a teu deleito - 
Azul, laranja... Qualquer cor eu aceito.

Vem sentar-te ao meu lado, conta-me os teus segredos...
Incita-me a fazer o mesmo.
Eu conto-te os meus medos,
Idealizando uma melhor faceta de mim própria...
Roubas-me a máscara e encaras o que sou:
Alma louca sem destino, ansiando e receando o tempo que voou.

Realizas um sonho meu, sabias disso?!
Imagino-te a ir embora, num rasgo de pesadelo...
Barco este em que navego, inseguro e amedrontado...
Enfraquecido pelas ondas do mar. Desculpa.
Irias comigo sentar-te na areia e sentir a brisa quente de Março?
Rir-te-ias se te enchesse de poesia, algo envergonhado?
O coração tem destas coisas - quando dou por ela, já nem sei o que faço...



quarta-feira, 21 de março de 2012

"Something to believe in" (Março-Junho 2011)

Já são menos as noites de insónia, já são menos os pensamentos mal-guiados que vão parar àquela ala proibida da minha mente. Mas, num momento de tédio, algo aparece no ecrã do computador e tudo demais surge na minha cabeça. Tudo passa num flash à frente dos meus olhos, e a pele dos meus braços arrepia-se com o pequeno desejo de um leve abraço.
Esta leve sensação de nostalgia é de tudo o que deixou em mim uma cicatriz que, embora mais profunda do que eu admito que é, tem uma lenta cicatrização. E sei que a marca vai permanecer sempre, como uma tatuagem que evito ver ou uma nódoa negra que dói ao toque.
Uma mistura de falhanço com outras coisas amargas cujo sabor não distingo.
Um sentimento de solidão, por vezes, quando quem eu quero que esteja comigo não está, e quando quem eu quero que fale comigo simplesmente não responde; ignora-me. Mas é só por vezes. Eu estou bem, eu sei que sim. A "nódoa negra" só dói quando lhe toco...
Talvez seja por causa dessa "tatuagem" que não tenho coragem para abrir POR COMPLETO o jogo com ninguém... Medo? Vergonha? Culpa? Ainda não sei. A minha cabeça é um puzzle que eu não percebo.
É por causa dessa "nódoa negra" que me sinto a imperfeita, a pequena, a aborrecida, a desinteressante, quando me deixam de falar num momento para o outro... Que me sinto um pouco abandonada quando não estou "com aquela pessoa" quando queria estar. São sentimentos que raramente surgem, mas que, quando surgem - quando sem querer toco na "nódoa negra", quando me olho ao espelho e tenho um vislumbre da "tatuagem" -, magoam.
Não vou rezar, não acredito em Deus. Agarro-me à aliança que tenho na mão direita, porque é a minha Fé, aquilo para o qual luto o que tiver de lutar, com as forças que tenho e que não tenho. Deito a cabeça na almofada, sabendo que os sonhos irão ser conturbados e confusos. E deixo pequenas mágoas tomarem conta da minha garganta. Mas nessa noite. Apenas nessa noite.

"Tonight I'll dust myself off, tonight I'll suck my gut in,
I'll face the night and I'll pretend
I got something to believe in..."



Metáfora

Sem grandes palavras nem inspiração,
Traço sonhos com os teus dedos.
Não to digo, nem tens a noção...
Esses sonhos são alguns dos meus segredos.
Ensinas-me a dominar o vento e a navegar no mar:
Guias-me pelas tuas ruas sinuosas e ajudas-me a voltar.
Ensino-te a magia das palavras escondidas num olhar:
Num só brilho conto-te aquilo que não se consegue soletrar.
O teu sorriso ilumina a casa fria e vazia onde os meus sonhos habitam;
Dormindo sossegadamente, vão acordando lentamente.
Por cantos e metáforas,
Conto a reviravolta da minha história (baixinho!):
Sussurrando o teu nome às paredes que, pintadas de branco,
Coram quando sabem em quem me estou fixando.
Percorro as ondas do teu cabelo com estas minhas mãos,
E chego a terra com um beijo;
Os meus pés largam o chão
Com o cheiro a maresia de desejo.
Nada do que consigo descrever faz sentido!
São frases intimistas disfarçadas de poesia elegante,
Tal como num conto de fadas já antes lido,
Com uma rapariga em perigo e o bem-aparecido cavaleiro andante.



sexta-feira, 2 de março de 2012

Quase

Subindo até à mais alta nuvem,
Olhei para o chão.
Pateta, julguei-me alguém
E caí na decepção.
Quase lá, quase no fim,
Quase realizei o meu quase desejo;
Quase descobri, assim,
O esfumar do sonho de um beijo.
Uma nova imagem que surgiu,
Uma nova miragem, uma ilusão,
Uma alma que partiu
Em busca de algo mais que a razão.
Razões? O coração lá as deve ter...
No meio da bruma, da aventura desconhecida,
Em ínfimas conversas quis aprender
O preço de uma ideia falida.
Em momentos me apaixonei pelo precipício,
Saltando sem cuidado algum;
Em momentos avancei mais do que o próprio início,
Uma história sem narrador nenhum...

O teu fogo chama-me, consome-me,
Os teus olhos pedem-me que mergulhe,
O meu coração aceleram-me,
A minha cabeça, mesmo a tempo, pára-me.

Será isto o que quero?
Será isto aquilo que nunca pensei vir a ter tão cedo?
Como conseguir expressar um olhar sincero
Quando estou limitada pelo medo?
O que está certo? O que está errado?
Não sei.
O que diz mesmo o meu coração?
Não faço a mínima...
E agora?

Cada vez que fecho os olhos, tento escutar.
O teu nome surge cá do fundo,
Invocando o teu rosto desfocado.
A minha boca contorce-se para poder falar,
A minha voz cala-se,
Um suspiro surge, atrevido:
Quero-te ao meu lado.

Pareço maluca...

Parte de mim quer o mar,
A outra parte anseia pela terra.
Uma nada, correndo o risco de se afogar,
A outra foge e corre, sem se querer cansar.
O Sol surge e dá-me alento.
Tudo o resto à minha volta se move;
Eu continuo estática - dialogando bem cá dentro
Com os vários "eus" que se recusam a ouvir.

Esperando que a campainha toque,
Anseio por te encontrar...
Imagino o que dizer, o que fazer, de que maneira te olhar...
Perco-me nestes raciocínios, não o que devia.
Sou uma evadida, uma iludida.
Estou aqui presa a uma cadeira,
Mas a minha alma por cantos e recantos vagueia;
Ora se esconde, ora se revela - ora corre, ora pára;
Continua à espera de um sinal que a faça decidir e entender
O que se sente sem se perceber.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Fixo-me em ti

Vejo indícios de um olhar, repleto de escuridão e prazer.
Ilusão? Não sei, mas já me afoguei.
A minha vista enche-se do fogo que arde sem se ver...
A profundeza de um poço, sem água para beber.
O despertar de um desejo, o nascimento de um sonho.
Arriscar e perder? Dar um passo em frente e ganhar? Pergunto-me.
O meu pensamento voa, vai e volta;
Prende-se numa nuvem alta, com medo de cair.
Mas o céu atrai mais do que a terra,
Mas no céu as estrelas brilham,
Mas o céu tem o que quero..
Mas o céu vale a pena?
Desde que seja sincero, e a vontade não seja pequena.

Um suspiro, um desejo
O teu fogo nas minhas mãos
Absorve-me na tua escuridão, transforma em realidade a ilusão,
Avança sobre mim como as ondas do mar, engolindo-me aos poucos
E se eu me afogar... Afoguei. Pelo menos tentei.
Existes? Diz-me que sim.
A minha alma divaga
Sem calma nenhuma.
Por tudo ou por nada, imagino, penso, sonho,
Crio, sonho.
Por tua causa, por causa do teu olhar, do teu sorriso, do teu jeito de ser, da tua forma de falar.
Sem querer, consegues encantar.
A culpa é minha, por me deixar levar.
Impossível controlar emoções,
Impossível pôr de lado as sensações.
Fixo-me em ti...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Coordenação, influência, tempo

Coordenação. Influência. Tempo.
Com um único movimento coordenas os meus olhos, influencias os meus pensamentos e roubas-me todo o tempo que tu quiseres.
Caminho lentamente, passo a passo piso o chão.
O mesmo chão que percorri há dois anos atrás, quando me roubaste toda a atenção.
Cores de memórias, nuvens de sonhos,
O perfume do ar.
Olho para cima involuntariamente e eis que tenho um vislumbre..
Do que já foi meu, do que já tive na minha mão,
Daquilo que foi o meu pilar, o meu sustento, a minha grande tentação.
Abro a boca para tentar dizer algo, mas nada sai.

O que o tempo consegue fazer a uma pessoa...

Por breves instantes absorvi todas as tuas características antes de ires embora mais uma vez.
Quando desapareceste, olhei para baixo (o meu humilde lugar nesta panorâmica) e sorri. Já estou habituada a não ser nada.

Fechei os olhos e sonhei com dias melhores,
Em que visões de ti não me enchessem os sonhos, em que a tua voz não me arrepiasse,
Em que os teus lábios não chamassem os meus, em que a tua presença não enchesse o céu de nuvens.

Encolhi os ombros.
Olhei para cima mais uma vez - o sítio onde te encontravas está agora vazio.

Desviei o olhar e continuei o meu caminho...


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sem álibi

Adorável. Fantástico.
Tens um brilho  na pele que me lembra o mar em dias de Verão, uma brasa intermitente no olhar à espera que algo de bom surja à vista. O teu cabelo é da cor da floresta consumida pelo fogo ardente, ondulando aos sons do vento e da chuva.
O teu corpo lembra-me um paraíso perdido, abandonado,um templo onde perdi as minhas preces e orações , desenhando-as nas tuas costas enquanto dormias: a tua respiração pesada, olhos bem cerrados, lábios bem apertados (tesouro que beijei), a tua mente perdida em sonhos que nunca soube quais.
O cabelo desalinhado, cansado, no qual tive o gosto de enterrar os meus dedos bastante vezes. Os teus braços, perfeitos.  As tuas pernas, sem qualquer defeito.
Metade com metade, parecendo inseparáveis - melhor poesia nao há.
"Embrulha-se-me o pensar".
Abro os olhos e desapareceste como uma miragem - mais depressa que a velocidade da luz.
Tive a minha oportunidade, saboreei-a e depois caí.
Pergunto-me se alguma vez irei aprender.
Puxei as lágrimas para dentro e colei um sorriso no rosto.  Um passo para a frente, dois passos para trás... Fui andando, fui subindo.
Ainda olho para trás de vez em quando - e a tua imagem ondula ao calor, olhando para as minhas costas.
Adoravel? Fantástico?
A minha sabedoria agora de nada vale, a historia torna-se lenda,  a memória guarda-se num canto do coração.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Chuva de Novembro

O breve cheiro das memórias distantes
Vem com o vento e bate à janela;
Entra descaradamente,
Prende-me numa cela:
Não há grades, apenas imagens...
Imagens perfeitas, fugidias
Miragens.
Um olhar fora do alcance,
Uma palavra do passado
Pede-me que dance...
Que dance ao som de um sonho pesado.
Nuvens de papel, ruas de alcatrão -
Uma alma sobe ao céu... A outra permanece no chão.
Ligação forçada, sem toque,
Um sopro deixado à sorte;
Promessas escritas no ar
Que a chuva de Novembro leva embora,
Brilho de calor ondulando no mar,
Deixado lá para lembrar quem decidiu ir para fora.
Um pé no Mundo, outro pé na (des)ilusão:
Sinais que enganam, outros que talvez não.
(In)decisões que matam,
(In)certezas que torturam:
No silêncio da noite fria, voam ecos pela casa vazia.
Estrelas que brilham sem sentido,
Fecham os olhos ao escuro do Universo:
Escolhem ver apenas o que queriam ter tido -
A luz tremida num poema, estrofe ou verso.
Três sílabas bastam,
Com três sílabas reescrevo a história;
Com três sílabas duas vidas sonhavam
Com algo que agora não passa de uma memória.
Com três sílabas sonha o grande louco,
Três sílabas que mudam um Mundo...
Tanto sonho que a vida sabe a pouco
Quando se procura por algo mais profundo.

Horas, minutos, segundos... O tempo é relativo
E pára, por vezes, capturando momentos.
Parece magia, mas é algo decisivo:
A água fresca para os sedentos, a chama ardente dos desalentos.

Abre um buraco no chão, escava bem.
Com a pá na mão e os olhos postos no céu,
PENSA BEM.
Mas não demores muito:
O vento leva a terra, a pá enferruja
E o olhar encerra uma visão demasiado suja.
As flores morrem, outras ervas crescem,
Os frutos caem, novas sementes nascem.
O Sol brilha, o vento lá se vai,
A nuvem negra espreita... E em Novembro a chuva cai.


domingo, 1 de janeiro de 2012

"Was it a dream"

Começar o novo ano da maneira certa - comecei. A sorrir, a saltar, a dançar, de braços no ar e confiante de boas surpresas!
Mas ainda há certos chamamentos invisíveis - tal como a Lua influencia o mar, ou o escuro da água do rio puxa pelo negro da alma para um salto.
Sorriso, olhar, feições, palavras, vozes - que me levam para outra dimensão, outra realidade: uma mais Feliz, sem questões ou dúvidas, sem certos ou errados, sem confusões. Tranquila.
Tenho o Sol a bater-me na cara e sinto outra pele que não a minha a roçar-me na anca. À minha frente, o rio estende-se em toda a sua plenitude, sulcado por vales e atravessado por sete pontes. A água brilha, as pessoas passeiam, e eu escrevo promessas no ar, lançando sonhos para a água. O corpo que sinto nas minhas costas move-se e, soprando para longe o tempo e o espaço, tatua o meu peito. Sorrio, preparando-me para um passeio com calor e segurança.
Abrindo os olhos, tudo são ruínas: as pontes caíram pela força do vento, atirando ao mar quem nunca suspeitou de tempestade; o rio inverteu o seu curso e as suas águas são da cor do petróleo; as ervas daninhas cresceram, sem ninguém que cuidasse delas; e o Sol escondeu-se, aterrorizado, atrás das nuvens que foram espreitar a desgraça.
E, quando levo a mão à boca para tapar um berro de horror, vejo uma alma sorridente a nadar no rio.
"Como é possível ver no meio de tanta escuridão?", pensei.
A alma nadava e nadava, e por onde passava tudo iluminava.
Sorri.
Afinal há um ponto de Luz no meio da ruína - o ponto de começo da reconstrução.

Tudo começa com um sonho - e acaba num sonho distante também.



Assombração - Parte I

 'Não quero falar do assunto' Apesar de toda a confiança Tudo regressa numa palavra Adeus à segurança Como uma assombração se volta ...