sábado, 19 de janeiro de 2013

Escravidão

Escravidão.
Servidão total às palavras que me fizeram refém. 
Aos soluços que despertam um mar salgado de lágrimas durante a noite,
Às ideias que correm como crianças num salão até serem repreendidas pela mãe,
Aos murros no estômago, tão característicos.
Reconheço a paisagem, estas montanhas imponentes.
Reconheço a marcha lenta em direcção ao topo.
Reconheço o que está do outro lado assim que se chega ao ponto mais alto.
Reconheço o acordar agitado e aprumado de um sonhador curioso que se digna a espreitar para o outro lado.
Também há coisas novas - luzes aqui e ali, flashes que me fazem pensar duas vezes sobre a dúvida natural que se impõe a tudo.
A questão, no entanto, é igual: continuo escrava das palavras, da caneta, do teclado e do papel; escrava das ideias que não se libertam, dos sonhos que não se diluem.........

Estranho

Ha... Estranho.
Estranho quando o coração está quase a explodir num vomitado de palavras que não se organizam para deixar escapar por entre os dedos e a caneta (ou o teclado) a verdade - escondida por detrás de metáforas e simbolismos, poemas sem aparente significado e composições escritas na calada da noite, acompanhadas do sabor salgado de uma lágrima.
Estranho quando um coração jovem, mostrando as cicatrizes ao palpitar, ainda tem a coragem de se abrir em dois pedaços iguais e receber o toque que, embora não seja o primeiro, parece. Todo o sonho, a vontade de viver, de saltar e alcançar as nuvens - prová-las como se prova algodão doce pela primeira vez! - está presente em cada respiração ofegante.
Estranho quando o tempo passa e o coração se lembra, percorrendo as antigas feridas com o dedo e levantando poeiras. A alegria inabalável dá lugar a um medo inquestionável - por detrás de cada oração professa com um beijo ou simples desejo, está o Fim à espreita, apontando o dedo, rindo-se.
Estranho quando a simples ideia de perder toda a Fé e a Esperança aperta o coração de diversas maneiras - esventrando o sorriso, a segurança e o amor-próprio.
Estranho quando a guitarra chama para dedilhar e o corpo não se mexe. A própria música, viva e correndo no sangue, esconde-se e perde-se - e, caramba, dá trabalho encontrá-la novamente...
"Dó sustenido menor; Fá sustenido menor; Fá; Ré" - É a descrição daquilo que consome, em chamas, a Fé cega, a oração emprole de algo que esperamos cegamente que fique connosco. É a montanha russa - das lágrimas incadescentes e noites em claro aos dias crescentes de certezas cada vez mais asseguradas.
É o dia-a-dia de uma mente barulhenta, criando e compondo em silêncio - mexendo com cada acorde musical - e cantando em voz bem alta, esforçando-se e contorcendo o estômago a tentar atingir aquele agudo daquela canção...
Lembra-me audições que nunca chegaram a acontecer - sonhos que não passaram disso mesmo e só me apercebi quando senti o baque surdo do acordar num novo dia.
Há sonhos que talvez não sejam para acontecer. Mas há outros sonhos e outras Fés pelas quais consideraria até Morrer...

Assombração - Parte I

 'Não quero falar do assunto' Apesar de toda a confiança Tudo regressa numa palavra Adeus à segurança Como uma assombração se volta ...