sexta-feira, 23 de março de 2012

Acrónimo

Embora gostasse, nunca caminharei ao largo da praia a espalhar brilho nos olhares.
Um dia, pensei que talvez fosse possível; mas a espuma do mar mandou-me para casa.

Agora, não sei que promessas mais quebrarei,
Manchando sorrisos de vergonha,
Orações de descrença, e afirmando que de nada sei.

Tudo é incerto, mas a luta aguarda-me,
Então carrego as armas.

Roubaste-me algo muito precioso,
Uma muralha que tinha construído..
Bastante convicto, deitaste-a abaixo
E chegaste até ao que estava mais escondido:
No fundo da ravina, recuperaste algo perdido.

Maravilhas-me com que és,
Admiro o teu olhar.
Gelo quando me falas de tudo aquilo,
Imaginando se um dia tu me falhas...
Numa questão de segundos, envolvi-te num abraço intenso,
Apreciando cada reacção a um beijo imenso.

Pára o tempo,
E vive este momento.
Roça os teus lábios nos meus,
Enlaça as minhas mãos nas tuas.
Idealiza um crime perfeito...
Rouba as ideias e pinta um cenário a teu deleito - 
Azul, laranja... Qualquer cor eu aceito.

Vem sentar-te ao meu lado, conta-me os teus segredos...
Incita-me a fazer o mesmo.
Eu conto-te os meus medos,
Idealizando uma melhor faceta de mim própria...
Roubas-me a máscara e encaras o que sou:
Alma louca sem destino, ansiando e receando o tempo que voou.

Realizas um sonho meu, sabias disso?!
Imagino-te a ir embora, num rasgo de pesadelo...
Barco este em que navego, inseguro e amedrontado...
Enfraquecido pelas ondas do mar. Desculpa.
Irias comigo sentar-te na areia e sentir a brisa quente de Março?
Rir-te-ias se te enchesse de poesia, algo envergonhado?
O coração tem destas coisas - quando dou por ela, já nem sei o que faço...



quarta-feira, 21 de março de 2012

"Something to believe in" (Março-Junho 2011)

Já são menos as noites de insónia, já são menos os pensamentos mal-guiados que vão parar àquela ala proibida da minha mente. Mas, num momento de tédio, algo aparece no ecrã do computador e tudo demais surge na minha cabeça. Tudo passa num flash à frente dos meus olhos, e a pele dos meus braços arrepia-se com o pequeno desejo de um leve abraço.
Esta leve sensação de nostalgia é de tudo o que deixou em mim uma cicatriz que, embora mais profunda do que eu admito que é, tem uma lenta cicatrização. E sei que a marca vai permanecer sempre, como uma tatuagem que evito ver ou uma nódoa negra que dói ao toque.
Uma mistura de falhanço com outras coisas amargas cujo sabor não distingo.
Um sentimento de solidão, por vezes, quando quem eu quero que esteja comigo não está, e quando quem eu quero que fale comigo simplesmente não responde; ignora-me. Mas é só por vezes. Eu estou bem, eu sei que sim. A "nódoa negra" só dói quando lhe toco...
Talvez seja por causa dessa "tatuagem" que não tenho coragem para abrir POR COMPLETO o jogo com ninguém... Medo? Vergonha? Culpa? Ainda não sei. A minha cabeça é um puzzle que eu não percebo.
É por causa dessa "nódoa negra" que me sinto a imperfeita, a pequena, a aborrecida, a desinteressante, quando me deixam de falar num momento para o outro... Que me sinto um pouco abandonada quando não estou "com aquela pessoa" quando queria estar. São sentimentos que raramente surgem, mas que, quando surgem - quando sem querer toco na "nódoa negra", quando me olho ao espelho e tenho um vislumbre da "tatuagem" -, magoam.
Não vou rezar, não acredito em Deus. Agarro-me à aliança que tenho na mão direita, porque é a minha Fé, aquilo para o qual luto o que tiver de lutar, com as forças que tenho e que não tenho. Deito a cabeça na almofada, sabendo que os sonhos irão ser conturbados e confusos. E deixo pequenas mágoas tomarem conta da minha garganta. Mas nessa noite. Apenas nessa noite.

"Tonight I'll dust myself off, tonight I'll suck my gut in,
I'll face the night and I'll pretend
I got something to believe in..."



Metáfora

Sem grandes palavras nem inspiração,
Traço sonhos com os teus dedos.
Não to digo, nem tens a noção...
Esses sonhos são alguns dos meus segredos.
Ensinas-me a dominar o vento e a navegar no mar:
Guias-me pelas tuas ruas sinuosas e ajudas-me a voltar.
Ensino-te a magia das palavras escondidas num olhar:
Num só brilho conto-te aquilo que não se consegue soletrar.
O teu sorriso ilumina a casa fria e vazia onde os meus sonhos habitam;
Dormindo sossegadamente, vão acordando lentamente.
Por cantos e metáforas,
Conto a reviravolta da minha história (baixinho!):
Sussurrando o teu nome às paredes que, pintadas de branco,
Coram quando sabem em quem me estou fixando.
Percorro as ondas do teu cabelo com estas minhas mãos,
E chego a terra com um beijo;
Os meus pés largam o chão
Com o cheiro a maresia de desejo.
Nada do que consigo descrever faz sentido!
São frases intimistas disfarçadas de poesia elegante,
Tal como num conto de fadas já antes lido,
Com uma rapariga em perigo e o bem-aparecido cavaleiro andante.



sexta-feira, 2 de março de 2012

Quase

Subindo até à mais alta nuvem,
Olhei para o chão.
Pateta, julguei-me alguém
E caí na decepção.
Quase lá, quase no fim,
Quase realizei o meu quase desejo;
Quase descobri, assim,
O esfumar do sonho de um beijo.
Uma nova imagem que surgiu,
Uma nova miragem, uma ilusão,
Uma alma que partiu
Em busca de algo mais que a razão.
Razões? O coração lá as deve ter...
No meio da bruma, da aventura desconhecida,
Em ínfimas conversas quis aprender
O preço de uma ideia falida.
Em momentos me apaixonei pelo precipício,
Saltando sem cuidado algum;
Em momentos avancei mais do que o próprio início,
Uma história sem narrador nenhum...

O teu fogo chama-me, consome-me,
Os teus olhos pedem-me que mergulhe,
O meu coração aceleram-me,
A minha cabeça, mesmo a tempo, pára-me.

Será isto o que quero?
Será isto aquilo que nunca pensei vir a ter tão cedo?
Como conseguir expressar um olhar sincero
Quando estou limitada pelo medo?
O que está certo? O que está errado?
Não sei.
O que diz mesmo o meu coração?
Não faço a mínima...
E agora?

Cada vez que fecho os olhos, tento escutar.
O teu nome surge cá do fundo,
Invocando o teu rosto desfocado.
A minha boca contorce-se para poder falar,
A minha voz cala-se,
Um suspiro surge, atrevido:
Quero-te ao meu lado.

Pareço maluca...

Parte de mim quer o mar,
A outra parte anseia pela terra.
Uma nada, correndo o risco de se afogar,
A outra foge e corre, sem se querer cansar.
O Sol surge e dá-me alento.
Tudo o resto à minha volta se move;
Eu continuo estática - dialogando bem cá dentro
Com os vários "eus" que se recusam a ouvir.

Esperando que a campainha toque,
Anseio por te encontrar...
Imagino o que dizer, o que fazer, de que maneira te olhar...
Perco-me nestes raciocínios, não o que devia.
Sou uma evadida, uma iludida.
Estou aqui presa a uma cadeira,
Mas a minha alma por cantos e recantos vagueia;
Ora se esconde, ora se revela - ora corre, ora pára;
Continua à espera de um sinal que a faça decidir e entender
O que se sente sem se perceber.

Assombração - Parte I

 'Não quero falar do assunto' Apesar de toda a confiança Tudo regressa numa palavra Adeus à segurança Como uma assombração se volta ...