domingo, 22 de janeiro de 2012

Coordenação, influência, tempo

Coordenação. Influência. Tempo.
Com um único movimento coordenas os meus olhos, influencias os meus pensamentos e roubas-me todo o tempo que tu quiseres.
Caminho lentamente, passo a passo piso o chão.
O mesmo chão que percorri há dois anos atrás, quando me roubaste toda a atenção.
Cores de memórias, nuvens de sonhos,
O perfume do ar.
Olho para cima involuntariamente e eis que tenho um vislumbre..
Do que já foi meu, do que já tive na minha mão,
Daquilo que foi o meu pilar, o meu sustento, a minha grande tentação.
Abro a boca para tentar dizer algo, mas nada sai.

O que o tempo consegue fazer a uma pessoa...

Por breves instantes absorvi todas as tuas características antes de ires embora mais uma vez.
Quando desapareceste, olhei para baixo (o meu humilde lugar nesta panorâmica) e sorri. Já estou habituada a não ser nada.

Fechei os olhos e sonhei com dias melhores,
Em que visões de ti não me enchessem os sonhos, em que a tua voz não me arrepiasse,
Em que os teus lábios não chamassem os meus, em que a tua presença não enchesse o céu de nuvens.

Encolhi os ombros.
Olhei para cima mais uma vez - o sítio onde te encontravas está agora vazio.

Desviei o olhar e continuei o meu caminho...


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sem álibi

Adorável. Fantástico.
Tens um brilho  na pele que me lembra o mar em dias de Verão, uma brasa intermitente no olhar à espera que algo de bom surja à vista. O teu cabelo é da cor da floresta consumida pelo fogo ardente, ondulando aos sons do vento e da chuva.
O teu corpo lembra-me um paraíso perdido, abandonado,um templo onde perdi as minhas preces e orações , desenhando-as nas tuas costas enquanto dormias: a tua respiração pesada, olhos bem cerrados, lábios bem apertados (tesouro que beijei), a tua mente perdida em sonhos que nunca soube quais.
O cabelo desalinhado, cansado, no qual tive o gosto de enterrar os meus dedos bastante vezes. Os teus braços, perfeitos.  As tuas pernas, sem qualquer defeito.
Metade com metade, parecendo inseparáveis - melhor poesia nao há.
"Embrulha-se-me o pensar".
Abro os olhos e desapareceste como uma miragem - mais depressa que a velocidade da luz.
Tive a minha oportunidade, saboreei-a e depois caí.
Pergunto-me se alguma vez irei aprender.
Puxei as lágrimas para dentro e colei um sorriso no rosto.  Um passo para a frente, dois passos para trás... Fui andando, fui subindo.
Ainda olho para trás de vez em quando - e a tua imagem ondula ao calor, olhando para as minhas costas.
Adoravel? Fantástico?
A minha sabedoria agora de nada vale, a historia torna-se lenda,  a memória guarda-se num canto do coração.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Chuva de Novembro

O breve cheiro das memórias distantes
Vem com o vento e bate à janela;
Entra descaradamente,
Prende-me numa cela:
Não há grades, apenas imagens...
Imagens perfeitas, fugidias
Miragens.
Um olhar fora do alcance,
Uma palavra do passado
Pede-me que dance...
Que dance ao som de um sonho pesado.
Nuvens de papel, ruas de alcatrão -
Uma alma sobe ao céu... A outra permanece no chão.
Ligação forçada, sem toque,
Um sopro deixado à sorte;
Promessas escritas no ar
Que a chuva de Novembro leva embora,
Brilho de calor ondulando no mar,
Deixado lá para lembrar quem decidiu ir para fora.
Um pé no Mundo, outro pé na (des)ilusão:
Sinais que enganam, outros que talvez não.
(In)decisões que matam,
(In)certezas que torturam:
No silêncio da noite fria, voam ecos pela casa vazia.
Estrelas que brilham sem sentido,
Fecham os olhos ao escuro do Universo:
Escolhem ver apenas o que queriam ter tido -
A luz tremida num poema, estrofe ou verso.
Três sílabas bastam,
Com três sílabas reescrevo a história;
Com três sílabas duas vidas sonhavam
Com algo que agora não passa de uma memória.
Com três sílabas sonha o grande louco,
Três sílabas que mudam um Mundo...
Tanto sonho que a vida sabe a pouco
Quando se procura por algo mais profundo.

Horas, minutos, segundos... O tempo é relativo
E pára, por vezes, capturando momentos.
Parece magia, mas é algo decisivo:
A água fresca para os sedentos, a chama ardente dos desalentos.

Abre um buraco no chão, escava bem.
Com a pá na mão e os olhos postos no céu,
PENSA BEM.
Mas não demores muito:
O vento leva a terra, a pá enferruja
E o olhar encerra uma visão demasiado suja.
As flores morrem, outras ervas crescem,
Os frutos caem, novas sementes nascem.
O Sol brilha, o vento lá se vai,
A nuvem negra espreita... E em Novembro a chuva cai.


domingo, 1 de janeiro de 2012

"Was it a dream"

Começar o novo ano da maneira certa - comecei. A sorrir, a saltar, a dançar, de braços no ar e confiante de boas surpresas!
Mas ainda há certos chamamentos invisíveis - tal como a Lua influencia o mar, ou o escuro da água do rio puxa pelo negro da alma para um salto.
Sorriso, olhar, feições, palavras, vozes - que me levam para outra dimensão, outra realidade: uma mais Feliz, sem questões ou dúvidas, sem certos ou errados, sem confusões. Tranquila.
Tenho o Sol a bater-me na cara e sinto outra pele que não a minha a roçar-me na anca. À minha frente, o rio estende-se em toda a sua plenitude, sulcado por vales e atravessado por sete pontes. A água brilha, as pessoas passeiam, e eu escrevo promessas no ar, lançando sonhos para a água. O corpo que sinto nas minhas costas move-se e, soprando para longe o tempo e o espaço, tatua o meu peito. Sorrio, preparando-me para um passeio com calor e segurança.
Abrindo os olhos, tudo são ruínas: as pontes caíram pela força do vento, atirando ao mar quem nunca suspeitou de tempestade; o rio inverteu o seu curso e as suas águas são da cor do petróleo; as ervas daninhas cresceram, sem ninguém que cuidasse delas; e o Sol escondeu-se, aterrorizado, atrás das nuvens que foram espreitar a desgraça.
E, quando levo a mão à boca para tapar um berro de horror, vejo uma alma sorridente a nadar no rio.
"Como é possível ver no meio de tanta escuridão?", pensei.
A alma nadava e nadava, e por onde passava tudo iluminava.
Sorri.
Afinal há um ponto de Luz no meio da ruína - o ponto de começo da reconstrução.

Tudo começa com um sonho - e acaba num sonho distante também.



Assombração - Parte I

 'Não quero falar do assunto' Apesar de toda a confiança Tudo regressa numa palavra Adeus à segurança Como uma assombração se volta ...