quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Outono (2014)

E eu, que poderia ficar fascinada com os mais bonitos pores-do-sol pela costa deste país, pelo carinho intrínseco ao amor ou pelas mais belas palavras de um texto, escolhi antes descobrir-te a ti. Escolhi antes deixar-me espantar pelos teus sonhos, passar a mão pelo teu cabelo, procurar no teu olhar um sinal de reciprocidade. Descobri-me perdida em quem tu és, nos teus gestos, no tom da tua voz, no teu sotaque. Descobri-me triste pelo cair da noite, na ausência da tua companhia ou compreensão. Descobri-me apagada pelas gotas intermináveis de chuva, que parecem sempre assinalar um negro marco e mais uma cicatriz na minha pele.
Tanta coisa a que poderia dedicar o meu tempo – a magia da leitura, o mistério da escrita… – mas ao invés disso aventurei-me em ti. Contigo. Mesmo sem ti, aventuro-me contigo no pensamento.
Tantas pessoas nas quais poderia investir – tanta gente ainda por conhecer! -, mas ignorei para te observar somente a ti. Para estudar cada passo que dás, no mais profundo fascínio que o ser humano é capaz de conseguir sentir.
Tanta coisa que poderia exprimir-te, dizer-te, confessar-te… De alguma forma, parece impossível transcrever o que o olhar transmite num único relance.

Aguardo, no mais profundo silêncio de alma, ouvindo o eco da chuva na janela e olhando para a escuridão de Outono lá fora. Aguardo. Sabendo que não posso esperar nada mais que um sonho.

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